Vincenzo Cencin

“Desde menino começa a sentir a feição mágica e iluminada de sua cidade natal, Veneza. Nada escapava aos olhos observadores do pequeno Vincenzo: os gondoleiros, os passeios pelos canais de águas escuras, as lendas sobre as sereias, as histórias dos antigos doges, a Piazza de San Marco, onde se podia correr e brincar. De todas as impressões de infância é o mar, com suas gôndolas, barcos e navios, que prenderia mais sua atenção, antecipando, de certa forma, o grande pintor de marinhas de anos mais tarde. Morou em várias cidades italianas durante sua infância até que, aos 16 anos, em Tolmezzo, ocorre sua iniciação artística. Seu primeiro quadro, foi feito sob a orientação do professor Franceschini, era uma igreja erguendo-se majestosa  por entre as montanhas da cidade. Daí em diante, dedicou-se à literatura e pintou marinhas, paisagens e desenhou figuras de filosofia a bico-de-pena. Praticava esportes, também, esqui e esgrima, tendo mesmo conquistado alguns troféus no último. Durante a Segunda Guerra Mundial une-se aos amigos para enfrentar os fascistas. Preso pelos alemães, fica um ano e meio em campo de concentração. Terminada a guerra, vários amigos e conhecidos perdidos, Vincenzo decide partir para novas descobertas. Chega ao Brasil em 1949, e passa os seis primeiros meses como ‘bon vivant’. Quando o pai morre, logo depois, e o dinheiro acaba, empenha-se em procurar emprego. Como engenheiro eletro-mecânico, formado na Itália, não é difícil arrumar uma colocação. Torna-se assistente técnico em uma grande empresa brasileira, vindo depois a conquistar postos mais altos da administração. Após 30 anos de trabalho, aposenta-se para realizar seu antigo sonho: dedicar-se somente à pintura. Faz mais do que isso: em 1981 inaugura a Galeria Velha Europa, um recanto que ele soube tornar acolhedor, repleto de obras de arte: quadros, vidros franceses, italianos, móveis antigos, prataria, objetos exóticos. Ponde então pintar de maneira integral. Enche paredes de sua galeria com casarios, igrejas, paisagens e marinhas. O ser humano está sempre presente em suas obras e uma verdadeira multidão de tipos desfila por elas: bufões, artistas, boêmios, poetas, trabalhadores, gente humilde do povo. São esses os tripulantes de seus barcos luminosos e os andarilhos de seus ensolarados caminhos. Vincenzo é sócio efetivo da Academia de Belas Artes. Recebeu em 1983 o diploma de ‘Gente de Destaque’ da Globarte. José Roberto Teixeira Leite assim se refere à sua pintura: ‘…para esse homem chegado já maduro às artes, depois de longa carreira em campo diametralmente oposto, o que importa é lançar, sobre o espaço da tela, reminiscências do homem mediterrâneo que é, às voltas com o mar, o casario, barcos de pesca e pescadores, montanhas e praias sob um céu muito azul. Constrói assim um mundo silencioso e poético, mais sensível do que racional, numa evocação de outras eras idas e vividas, longe do bulício das grandes cidades sem alma.’” (LOUZADA, Júlio. Artes Plásticas Brasil 87 – seu mercado – seus leilões. Editora Inter/Arte/Brasil, Primeira Ed., 1986, v. 2, p. 262)