Gerardenghi

Não é raro encontrar pinturas com o retoque cromático executado muito além das áreas de perda de camada pictórica.

Contudo, este caso tornou-se exemplar, haja vista que os retoques executados não só ultrapassavam as áreas de perdas, como também cobriam características próprias da obra e do modo de pintar do artista.

Isto porque, verificou-se que o artista, principalmente na região em que pintou o céu, deixa a mostra a trama da tela como parte a compor a obra.

Em restauro anterior, todavia, tal característica havia sido erroneamente interpretada como “áreas de perdas” e, portanto, também equivocadamente preenchidas com tinta.

Dessa maneira, neste trabalho, não somente executamos os procedimentos mais comuns em restaurações de pintura de cavalete como remoção de verniz e afins, mas também houve uma grande preocupação em trazer de volta a intenção inicial do artista e, consequentemente, a leitura original da obra composta por áreas pintadas e outras com a trama da tela aparente.

Sobre o artista:

Pintor e professor. “De família nobre, era Marquêz. Sempre viveu em Nápoles, onde estudou e concluiu sua formação artística, como aluno de Eduardo Dalbono, Domenico Morelli, Filíppo Palizzi e Michele Cammurano. Reputado pintor de paisagens, sobretudo marinhas, figurou em diversas exposições na Itália, até o ano de 1923, quando, inconformado com as transformações que vinham ocorrendo nos meios artísticos e com as severas critícas à pintura acadêmica, resolveu transferir-se para o Brasil. Sua carreira na terra natal alcançou grande destaque em 1908, quando conquistou a Medalha de Ouro na Exposição Internacional de Nápoles, e em 1916, quando o seu quadro Lã para os Soldados foi escolhido pela Cruz Vermelha italiana para ser reproduzido como propaganda de Socorros de Guerra. Com obras na Pinacoteca da Câmara Municipal de Nápoles, no Ministério da Instrução em Roma e em outras cidades italianas, o Rei da Itália, um de seus colecionadores, nomeou-o Cavaleiro da Coroa. Além de pintor, exerceu a atividade de professor na Escola de Artes Aplicadas, em Aviglione, e na Academia Salvador Rosa em Nápoles. No Brasil, escolheu a cidade de São Paulo para se fixar. Viajava frequentemente à Santos, prestigiado que era pela família Fracarolli, na época proprietária do Parque Balneário Hotel, onde se hospedava com frequência, atraído pelo mar que tanto retratou. Deixou inúmeros trabalhos pintados nessa cidade. Foi professor do artista Rocco, face a amizade entre pai de Alfredo e o pintor. Em maio de 1923, o mesmo de sua chegada ao País, participou da coletiva Pintores Italianos, sendo muito bem recebido pelo público e pela crítica. Em 1956, um ano antes de seu falecimento, apresentou-se na mostra 50 Anos de Paisagem Brasileira. A Sociarte incluiu vários quadros seus na mostra A Paisagem Brasileira organizada em 1980."(Fonte: LOUZADA, Júlio. Artes Plásticas Brasil – seu mercado – seus leilões. Editora Inter/Arte/Brasil. 1987, v. 2, p. 439)