A pintura barroca espanhola encontra-se dividida em três períodos do século XVII: a primeira metade, os anos centrais e a segunda metade. Trata-se o século XVII de uma época pródiga para a pintura espanhola, culminando com seu esgotamento ao final desse século, para, então, a partir de meados do século XVIII, surgir Goya.

A primeira metade caracteriza-se pelo realismo e tenebrismo[1], com focos simultâneos em Madri, Toledo e Sevilha, esta última será a única a dar continuidade na pintura barroca no decorrer do século XVII e, também, é de onde advirão os principias mestres desse estilo. Os artistas de destaques são Valenciano, Ribalta e Ribera.

Nos anos centrais destacar-se-ão Zurbarán, Alonso Cano e Velázquez. Já na última metade, os focos expoentes serão a Corte de Madrid e Sevilha, representados pelas figuras de Murillo e Valdés Leal.

As características gerais da escola barroca são:

  • temas religiosos e devocionais, como os principais clientes são as ordens religiosas, a mitologia só aparece na arte produzida para a Corte;
  • são proibidos o nu, a sensualidade e os temas pagãos por conta da Contrarreforma;
  • o realismo — abandono cio mórbido e do patético — é o principal objetivo e há o uso do tenebrismo em virtude da influência de Nvarrete e Caravaggio, bem como da escola veneziana;
  • abandona-se a elegância renascentista e a distorção maneirista:
  • a partir da segunda metade, muda-se a estética: as cores serão mais luminosas, a composição será teatral e o desenho será diluído — com pinceladas soltas: a influência será flamenga, com destaque para Rubens.

A Escola Valenciana: Ribalta e Ribera

Francisco Ribalta (1565-1628) foi influenciado por Navarrete e sobretudo, por Caravaggio, o que lhe ocasiona uma pintura bastante tenebrista. Em sua pintura. Visón de San Francisco, resta patente o seu principal escopo, quais sejam o realismo e a expressividade na representação das figuras, alcançados graças ao jogo de claro e escuro com a iluminação focal a partir de um único ponto. No que diz respeito à utilização das cores, é possível observar que as tonalidades maneiristas já não aparecem em suas obras, cedendo lugar aos tons a base de terra e ocre.

Pintura barroco espanhol 1

José Ribera (1591-1662) é fundamental para o barroco espanhol. Viaja a Roma onde conhece a influência de Caravaggio, depois ruma para a Corte de Nápoles, lugar em que triunfa. Sua pintura caracteriza-se pela emoção religiosa dos temas, o domínio da cor e da luz e pela riqueza cromática que supera Caravaggio e Ribera.

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A Escola Madrilena: Velázquez

Velázquez nasce em Sevilha em 1599. Estudou pintura em diversos ateliês sevilhanos, inclusive no de Herrera el Viejo. Passou, por último, pelo ateliê de Francisco Pacheco em que, em 1617, alcançou o título de mestre, aos dezoito anos. Por meio de um pequeno círculo de intelectuais entrou em contato com a aristocracia e a corte (o mercado da nobreza era a meta almejada pelos pintores dessa época).

Em Sevilha, a estética tenebrista de Caravaggio, a qual impregnava toda a pintura sevilhana, prevalecia. Assim, Velázques pinta a Vieja friendo huevos, A Adoración de los Reyes Magos e outras obras de mesmo gênero. Graças a sua amizade com personalidades da nobreza, consegue o encargo para retratar o rei Felipe IV e. com seu êxito, as portas da corte foram-lhe sendo abertas.

Pintura barroco espanhol 3

É nesse momento que Velázquez sente ressuscitar em seu interior o orgulho ilustre, descobrindo uma vocação para a nobreza. O pintor considerava-se mais um nobre, do que um pintor, porém, fora, justamente graças a sua arte, que recuperara a posição perdida. Na Espanha do século XVII, o ideal mais elevado era a nobreza, considerado até status superior ao prestígio dos pintores. A essa primeira época cortesã pertence a obra Principe Baltasar Carlos em que o pintor ensaia novas soluções. Afinal, na condição de nobre, nada era exigido de Velázquez, podia, dessa maneira, pintar o que lhe fosse aprazível, sem cobranças quanto à qualidade, temática e rapidez de suas obras.

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Los Borrachos é a última obra juvenil de Velázquez seguindo padrões tenebristas. Em 1629, viaja a encargo do rei da Itália, lugar onde conhece as obras clássicas. Essa viagem de dois anos provoca uma mudança na obra do artista: sua palheta perde densidade e seus quadros parecem mais leves, com perspectiva aérea; abandona totalmente o tenebrismo e inicia a jornada rumo a um estilo próprio. Dessa época é La Fragua de Vulcano (perspectiva aérea) em que emprega pela primeira vez a técnica original de representar a perspectiva por meio da gradação de solidez e nitidez em cada plano. Tal fator denota a influência dos holandeses na pintura de Velázquez, entretanto, este último os supera.

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Na volta de Itália, o Conde Duque de Olivares encarrega Velázquez de decorar o Salón del Reino, do Palácio del Buen Retiro, em que trabalha com Zurbarán, realizando ali suas melhores obras: La Rendeción de Breda e outras obras vitoriosas dentro da campanha de prestígio de Felipe IV e do Conde Duque de Olivares, cuja atuação na Guerra dos Trinta Anos dista muito de ser tão afortunada como proclamam os quadros a seu respeito.

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Em 1649, o pintor realiza uma segunda viagem à Itália para comprar quadros para o rei. Esta segunda viagem distingue-se da primeira, pois viaja como pintor real, aprendendo muito mais e com mais prestígio. Retrata as principais personalidades italianas, entre eles o Papa Inocencio X. Em 1651, regressa a Madri chamado pelo rei para decorar Alcazar, época em que vai pintar suas últimas e definitivas obras: Las Meninas e Las Hilanderas.

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As características políticas que influenciaram na pintura de Velázquez foram: a Contrarreforma, da qual se esquiva, sofrendo pouca influência, ao integrar-se ao círculo cortesão, bem corno por meio da campanha publicitária favorável que converte o fracasso do exército espanhol, na Guerra dos Trinta Anos, em vitória.

Outra característica da pintura de Velázquez é o reencontro com sua linhagem nobre. Os bufões, seres anormais ou meninos vagabundos que retrata não são símbolos da profunda mentalidade aristocrática cristã. A obra El Nino de Vallecas demonstra o distanciamento aristocrata dos problemas sociais.

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Em 1559, Velázquez falece por doença, em Madri, aos sessenta e um anos, porém seu último decênio em Madri corresponde às mais altas definições de perspectiva aérea, sobretudo em Las meninas e Las Hilanderas. Entende-se por perspectiva aérea a culminação pictórica do ilusionismo e do naturalismo moderno. Com Velázquez encerra-se uma longa etapa de vários séculos para atingir-se a captação da realidade como a vemos. O novo passo na representação da realidade somente será possível com o Impressionismo.

Enfim, o que se conclui de Velázquez? Que foi um grande artista, talvez um dos maiores pintores todos os tempos. Um mestre da técnica, dotado de um estilo individual muito marcante, tendo influenciado sobremaneira a arte europeia e, consequentemente, toda a arte ocidental.

[1] Contraste de luz e sombra, fazendo com que as partes iluminadas destaquem-se bastante daquelas que não o estejam.