Introdução

Emiliano Augusto Cavalcanti Di Albuquerque e Melo nasce no Rio de Janeiro em 1887, não só para ser um dos mais representativos pintores e desenhistas brasileiros; mas também para destacar-se como intelectual, senhor de vastíssima cultura literária, francesa, sobretudo, escritos de estilo fluente e agradável, como comprovam seus poemas e, principalmente, seus livros de memórias.

Quando da morte de seu pai, em 1914, Di Cavalcanti disse: “Fiz-me homem, pobre homem”. E daria início a sua carreira de artista com caricaturas, na revista “Fon-Fon”, em que viria a expor, em 1916, no “Salão dos Caricaturistas”. Ao visualizar um retrato de Dom Pedro II, conscientizou-se de seu realismo inato.

Aos 20 anos, começa a pintar, frequentando o atelier do professor Elpons, alemão e impressionista, onde passa a admirar as obras de Van Gogh.

Em 1913, Lasar Segall expõe seguido, em 1917, por Anita Malfatti, esta duramente criticada. Tais episódios fazem parte da história de um movimento em direção às correntes modernistas europeias que iria culminar na “Semana de Arte Moderna de 1922”.

Di foi idealizador e organizador da “Semana de Arte Moderna de 22”, elaborou o catálogo e o programa da exposição. Di Cavalcanti diria que o seu modernismo se coloria de anarquismo da cultura brasileira.

Di Cavalcanti

O primeiro painel modernista da América Latina foi pintado, em 1929, para o “Teatro João Caetano”: “Samba e Carnaval”.

Di Cavalcanti

Segue para Paris, em 1923, onde permanece, por dois anos, em contato com as obras dos grandes mestres renascentistas, conhece Picasso, entra em contato com o cubismo e surrealismo, mas reconhece não poder viver sem o Rio de Janeiro, porque tudo o que via como pintor se integrava na paisagem carioca.

Di Cavalcanti

Di Cavalcanti

De acordo com Aracy Amaral, Di Cavalcanti é um dos mais essenciais desenhistas brasileiros, como comprova a coleção de mais de 564 trabalhos do acervo do MAC da Universidade de São Paulo, doados pelo artista, com técnicas de grafite, crayon, nanquim, lápis de cor, aquarela, guache, sendo que nenhum deles é projeto para pintura, comprovando que nele o desenho antecede à pintura, o traço à cor, como expressividade, sua modernidade emergindo já na liberdade marcante da caricatura e do absoluto humor.

A pintura de Di Cavalcanti não prescindia do desenho, o contorno está sempre presente com cores e volumes.

Di CavalcantiDi Cavalcanti

Na década de 30, elaborou, em Paris, cerca de 63 trabalhos sobre papel (quase metade deles são representações de mulheres) que deixou para trás, ao sair rapidamente do país, diante da iminente invasão alemã. Em meados de 80, todo o lote esteve em leilão em Nova Iorque, sendo arrematados por compradores brasileiros.

Di Cavalcanti

Di Cavalcanti

Em 1948, participou de uma conferência no Museu de Arte Moderna de São Paulo, ocasião em que critica a arte abstrata e defende a arte realista social, direção para a qual suas obras sempre apontaram.

Enfim, para Di, a crise social que o capitalista carregava e alimentava em seu seio acabaria por dividir os artistas: segundo ele: “de um lado haverá uma arte utópica (irrealizada) minoritária, esterilizada na forma, e o abstracionismo. Do outro lado, ficará o realismo da razão e a força da compreensão humana”.

Cronologia

  • Di Cavalcanti nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 6 de setembro de 1897.
  • Desde jovem demonstrou grande interesse pela pintura. Com onze anos de idade teve aulas de pintura com o artista Gaspar Puga Garcia.
  • Seu primeiro trabalho como caricaturista foi para a revista “Fon-Fon”, no ano de 1914.
  • Participou do Primeiro Salão de Humoristas em 1916.
  • Mudou para a cidade de São Paulo em 1917.
  • Em 1917, fez a primeira exposição individual para a revista “A Cigarra”.
  • No ano de 1919, fez a ilustração do livro Carnaval de Manuel Bandeira.
  • Participou da Semana de Arte Moderna de 1922, expondo 11 obras de arte e elaborando a capa do catálogo.
  • Em 1923, foi morar em Paris como correspondente internacional do jornal Correio da Manhã. Retornou para o Brasil dois anos depois e foi morar na cidade do Rio de Janeiro.
  • Em 1926, fez a ilustração da capa do livro O Losango de Cáqui de Mário de Andrade. Neste mesmo ano participa como ilustrador e jornalista do jornal Diário da Noite.
  • Em 1927, colaborou como desenhista no Teatro de Brinquedo.
  • Em 1928, filiou-se ao Partido Comunista do Brasil.
  • Em 1934, foi morar na cidade de Recife.
  • Morou na Europa novamente entre os anos de 1936 e 1940.
  • Em 1937, recebeu medalha de ouro pela decoração do Pavilhão da Companhia Franco-Brasileira.
  • Em 1938, trabalhou na rádio francesa Diffusion Française.
  • Em 1948, faz uma exposição individual de retrospectiva no IAB de São Paulo.
  • Em 1953, foi premiado, junto com o pintor Alfredo Volpi, como melhor pintor nacional na II Bienal de São Paulo.
  • Em 1955, publicou um livro de memórias com o título de Viagem de minha vida.
    Recebeu o primeiro prêmio, em 1956, na Mostra de Arte Sacra (Itália).
  • Em 1958, pintou a Via-Sacra para a catedral de Brasília.
  • Em 1971, ocorreu a retrospectiva da obra de Di Cavalcanti no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
  • Morreu em 26 de outubro de 1976 na cidade do Rio de Janeiro.

Conclusão

A escolha da madeira como suporte para receber as obras de Di Cavalcanti tem como proposta a comparação da capacidade de ambos de enfrentar o tempo e suas marcas, como de manter sua estrutura. Apesar das modificações sofridas, em decorrência do passar do tempo, a madeira é suporte durável, quase que perene. Assim como toda a obra deste artista que se mantém atual até os dias de hoje. Além disso, a madeira é material largamente utilizado em nosso país, matéria-prima de grande representatividade desde os tempos do Brasil colônia, fato este que nos remete também à obra deste grande pintor e desenhista, o qual exalta em sua arte cenas e costumes tipicamente brasileiros. O fundo preto, por sua vez, justifica-se com o fim de destacar o lindo colorido das pinturas, bem como o branco, cinza e preto dos desenhos, deste grande mestre modernista.

Di Cavalcanti, apesar de seu contato como o cubismo, o expressionismo e outras correntes artísticas inovadoras, manteve seu propósito de posicionar a arte brasileira no mundo com ousadia estética e perícia técnica, teve sua arte marcada pela definição de volumes, riqueza de cores e luminosidade, adicionados aos temas do cotidiano.

O Brasil do pintor é carregado de lirismo e símbolos da “brasilidade” e sexualidade da mulher brasileira.

Suas obras possuem, enfim, figurações temáticas voltadas para o social (pobreza, boêmia, carnaval e mulatas), sendo avesso à arte abstrata.

Di Cavalcanti

Di Cavalcanti

Seus desenhos e pinturas são cheios de vivacidade, a partir de seus trabalhos, evidencia-se o prazer “do fazer”, “de estar criando”, “inventando”, “executando”, o que, seguramente, era a sua missão na Terra.

Referências:

ARAUJO, Olivio Tavares. O olhar amoroso (textos sobre arte brasileira). Editora Momesso, São Paulo: 2002;

COELHO, Diná Lopes. Catálogo de Retrospectiva di Cavalcanti. Museu de Arte Moderna de São Paulo;

www.macvirtual.usp.br;

www.dicavalcanti.com.br