Luz visível, radiações ultravioleta e infravermelha e raios X

A  postagem a seguir trata-se de uma tradução/versão de alguns assuntos abordados no site http://fineartconservation.ie. Optamos por traduzir trechos deste site por se tratar de informação simples e objetiva quanto ao tema especificamente abordado - exames com luz visível, UV, IV e raios X. Lembrando sempre que uma pesquisa séria nunca deve se basear em uma única fonte de informação, aconselhando-se, para quem quiser entender mais acerca do assunto, uma leitura mais aprofundada e ampla a partir de outras referências reconhecidas na área. Exceptuando-se o exame com raios X que foi feito no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFUSP) sob a supervisão do Prof. Dr. Paulo Pascholati, todos os demais foram realizados no Ateliê.

Espectro Eletromagnético

Luz Visível

A luz visível é a única parte do espectro eletromagnético que é visível para o olho humano. A luz visível abrange fontes de luz diurna, incandescente e fluorescente. O exame com luz visível é utilizado na fase inicial do exame de obras de arte. Esse exame pode ser auxiliado por lupas e estereomicroscópio para aumentar as características de uma área de interesse especial. A direção em que a luz recai sobre a pintura pode revelar as características técnicas individuais, bem como diferentes problemas de conservação. A observação com luz direta e difusa pode facilmente revelar descolorações, alterações de pigmentos e perdas da camada de pintura. Quando a fonte de luz está localizada em um lado do objeto em um ângulo baixo entre 5º e 30º em relação à superfície examinada, ela é chamada de luz rasante. Este tipo de exame enfatiza a textura da camada de pintura, como pinceladas, pintura descamada e deformações de suporte como protuberâncias, rugas e rasgos. A observação com luz transmitida permite ao conservador-restaurador estudar a técnica do artista e também indica as áreas que podem requerer maior atenção. Quando a fonte de luz é colocada na parte de trás da pintura e a frente da pintura é examinada, isto é chamado de luz transmitida. Este método produz informações como a existência de fissuras, rachaduras e espessura da tinta. Esta técnica também é muito útil no exame de pinturas reversas em vidro. Os resultados do exame de luz visível podem ser registrados com técnicas de fotografia padrão, enquanto a fotomacrografia pode ser usada para registrar informações sobre os materiais do artista, técnica de pintura e inscrições de documentos.

UV

A radiação UV tem comprimento de onda mais curto do que a luz visível. A fonte natural de radiação UV é o sol, mas também pode ser emitida por lâmpadas fluorescentes especialmente projetadas, lâmpadas de vapor de mercúrio e diodos emissores de luz. Todas essas fontes ultravioletas artificiais emitem a radiação UV em diferentes comprimentos de onda. A banda UV mais útil no exame de obras de arte é 360nm e quase todas as análises de objetos de arte começam com o exame de UV porque é um teste muito rápido e barato que pode fornecer informações muito úteis e ajudar a determinar a próxima técnica de análise ou abordagem de conservação-restauração apropriada. Existem duas maneiras de usar a radiação UV para tirar fotografias - fotografia de fluorescência ultravioleta e ultravioleta refletida. Na fotografia UV refletida, a superfície da camada de pintura é iluminada diretamente por lâmpadas de radiação ultravioleta (fontes de radiação). A radiação é parcialmente absorvida e refletida pela camada de pintura. Um filtro de transmissão de UV, filtro de luz visível, é colocado na lente da câmera, permitindo que apenas ultravioleta refletido passe. O filtro absorve toda a luz visível. Esta técnica permite ao conservador-restaurador examinar as condições da camada de verniz e também pode detectar o crescimento de fungos. Na fotografia de fluorescência UV, o filtro é colocado na frente da fonte UV para absorver todo o espectro visível de radiação, permitindo que o ultravioleta desejado passe e alcance o objeto. A camada de pintura absorve o espectro invisível para ao olho nu. A radiação UV e os materiais reativos da camada de pintura emitem fluorescência que está no espectro visível. Um segundo filtro de corte UV é colocado na frente da lente da câmera para permitir que apenas a fluorescência visível desejada seja registrada pela câmera. A fotografia de fluorescência UV pode revelar a presença de vernizes de resina naturais, pois estes geralmente fluorescem sob luz UV, enquanto os vernizes mais novos não o fazem. Também é possível identificar quaisquer retoques e repinturas, pois aparecem como manchas escuras não fluorescentes em contraste com as áreas fluorescentes originais. Por exemplo, a autenticidade das inscrições ou assinaturas originais pode ser confirmadas na fotografia de fluorescência UV. O fenômeno de fluorescência também pode ajudar o conservador a identificar os materiais utilizados pelo artista no processo de criação da obra de arte. A fluorescência ocorre frequentemente em materiais orgânicos e é um fenômeno raro em materiais inorgânicos. Certos pigmentos e aglutinantes podem fluorescer com cores muito precisas sob UV, no entanto, esta técnica de identificação deve ser usada com muito cuidado, dado que muitos fatores podem influenciar a fluorescência dos materiais. Como, por exemplo, impurezas que podem influenciar fortemente a cor da fluorescência e podem até concorrer para que a fluorescência diminua ou desapareça. A radiação UV também é uma ferramenta valiosa para verificar o progresso da limpeza da superfície ou tratamento de remoção de verniz e também para inspecionar o objeto após o tratamento de conservação-restauração. O exame com UV tem alguns limites. Por exemplo, os retoques ou repinturas muito antigos executados no passado e examinados com a luz UV podem ser difíceis de distinguir, pois tendem a fluorescer somente após oitenta ou cem anos. Assim, a a fluorescência uniforme da camada de pintura pode não mostar intervenções passadas.

luz visível

UV

luz visível

UV - durante remoção de verniz

luz visível

UV

IV

A radiação infravermelha pode ser melhor descrita como radiação eletromagnética com um comprimento de onda maior do que o espectro de luz visível. A técnica de exame com infravermelho detecta materiais altamente absorventes à base de carbono, como grafite, carvão e tinta. Este exame permite ao conservador-restaurador determinar de maneira não destrutiva o que se encontra abaixo das camadas de tinta, em particular o desenho subjacente ou o contorno da composição pintado ou desenhado pelo artista sobre a base de preparação como guia. A luz infravermelha passa parcialmente pelas camadas de pintura superiores da pintura. Os fatores que determinam a transmissão da radiação infravermelha através das camadas da pintura são absorção e reflexão pela câmera em decorrência da presença de carbono no desenho subjacente. No entanto, a espessura da camada de pintura e sua composição química específica, tipo de argamassa, aglutinantes de óleo e água, pigmentos e preenchimentos também influenciam os resultados satisfatórios do exame. Além disso, a capacidade dos raios infravermelhos de transpassar a camada de verniz auxilia os conservadores-restauradores a examinar a camada de pintura e a descobrir tratamentos de restauração posteriores como retoques, mas o mais importante é a capacidade de alcançar o desenho preparatório que pode fornecer informações sobre a técnica dos artistas e também pode ajudar a resolver problemas de atribuição. O exame de obras de arte usando este tipo de radiação pode ser registrado usando-se a fotografia infravermelha. Para a fotografia IV, o objeto precisa ser iluminado por uma fonte de radiação infravermelha que muitas vezes pode ser lâmpada de tungstênio ou halogênio. Diferentes filtros de bloqueio de luz visível conectados à lente ou sensor da câmera podem ser usados ​​para registrar digitalmente as descobertas. No entanto, a faixa estreita de comprimento de onda utilizada na fotografia infravermelha limita os pigmentos passíveis de penetração. A técnica de reflectografia de IV oferece maior sensibilidade. O objeto é iluminado de forma semelhante à fotografia. Esta técnica de exame é capaz de gravar em uma ampla gama de comprimentos de onda, permitindo uma melhor penetração.

IV

luz visível - tela teste

IV - tela teste

Raios X

Os raios X são uma forma de radiação eletromagnética e são mais curtos em comprimento de onda do que a radiação ultravioleta. Esta técnica não-destrutiva é comumente usada para o exame técnico de pinturas para avaliar sua condição e conhecer os materiais e técnicas originais utilizados pelos artistas. Os raios X podem passar através de camadas de tinta e suporte facilmente, mas o nível de penetração depende das propriedades físicas do material sendo radiografado, como a sua densidade e espessura. Por exemplo, os raios X penetram os materiais de baixa densidade (tela) de forma relativamente fácil e são absorvidos por materiais de maior densidade (pigmentos que contêm metais pesados ​​como branco ou vermelho de chumbo). Assim, ao ler-se um raio X, as áreas mais densas da obra de arte aparecem mais claras ou até brancas. A radiografia X é muito útil para detectar alterações da composição (pentimenti), pinturas escondidas e áreas repintadas. Esta técnica de exame pode revelar informação sobre a composição e condição das telas, painéis, esculturas de madeira, localização, extensão e natureza dos danos, como rasgos, furos, rachaduras internas, infestação de pragas e também reparos antigos como manchas de tecido, revestimentos e preenchimentos. A informação coletada pelo exame de raios  X é extremamente valiosa para os conservadores-restauradores, pois ajuda a determinar os problemas de conservação do objeto e a posterior abordagem de conservação-restauração correta. A informação revelada por este tipo de exame também pode auxiliar os historiadores da arte na interpretação do trabalho artístico e datação. O exame de obras de arte usando raios X deve ser feito em nível laboratorial e pode ser registrado com técnicas de radiografia, as quais dependem da passagem dos raios X através do objeto e de registro da imagem resultante em filme radiográfico ou em meio digital.

raios X - áreas brancas - metais pesados

raios X - áreas brancas - metais pesados

raios X - áreas brancas - metais pesados

raios X - áreas brancas - metais pesados

luz visível

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